sábado, 7 de novembro de 2009




“Não fala que eu choro em casa.”

O meu compromisso para aquele sábado já estava determinado. Levar as crianças a uma festinha de aniversário . A preparação psicológica iniciou-se desde que abri os olhos, no começo da manhã. Não tinha muita certeza se a decisão de ir tinha sido a melhor, mas sabia que as crianças contavam muito com a festinha num Buffet infantil. Muitos brinquedos eletrônicos, muitos doces, música de qualidade duvidosa e principalmente, a namoradinha do Thales, que era a aniversariante.


Fui comunicada por ele com um mês de antecedência, firmei minha palavra, ele iria. A ansiedade tomou conta do projeto de homem, fazia planos, pensava nos detalhes. Lembrou-me insistentemente de que ela era sua namorada.


Enfim, estávamos prontos para o momento mais importante da sua história amorosa. Eu ria por dentro e achava o máximo ver o piá fazendo-me recomendações, ao mesmo tempo tentava imaginar o que poderia fazer nas quatro horas intermináveis em que eu estaria sentada numa cadeira, me empanturrando de coxinhas, ouvindo “ cada um no seu quadrado”, sem conhecer ninguém e esperando ansiosamente pelo “parabéns”.


Foi então que o pequeno infante do alto dos seus quatro anos soltou a última recomendação: “Mãe não conta pra ela que eu choro em casa!” Eu respondi com uma pergunta como se não soubesse a resposta, querendo enriquecer a capacidade de argumentação do menino. “ Por que não posso contar que você chora em casa?” “- Ela não vai mais gostar de mim.”


Entendi como desde cedo somos levados a julgar mais importante o que pensam de nós do que aquilo que somos de fato.
Chorar não é uma fraqueza, é entender nossa humanidade. O motivo é o que menos importa. Depois de um choro, somos transformados, somos aquietados na agonia que é viver. Mais que isso, o choro é a capacidade de descobrir-se .